Julgamento da trama golpista: incerteza política e impactos sobre a economia brasileira
2025-09-25 08:00:15O Brasil se encontra diante de um episódio que transcende o campo jurídico: o julgamento da chamada trama golpista. Mais do que um processo de responsabilização individual, este evento coloca à prova a resiliência das instituições democráticas e projeta efeitos diretos e indiretos sobre a economia. Em países emergentes, onde a confiança institucional é frequentemente um ativo escasso, momentos como esse adquirem relevância extraordinária. O desfecho ajudará a definir não apenas responsabilidades jurídicas, mas também a percepção de estabilidade sobre a qual se apoiam decisões de investimento, consumo e financiamento.
A literatura em economia política demonstra que a estabilidade institucional é condição necessária para a previsibilidade econômica. Em contextos de fragilidade, as expectativas se tornam voláteis e os custos de financiamento aumentam, restringindo o espaço para o crescimento sustentado. No caso brasileiro, o julgamento da trama golpista assume caráter simbólico ao representar a oportunidade de demonstrar que não há espaço para rupturas democráticas. A mensagem transmitida pelo judiciário poderá consolidar ou enfraquecer a confiança dos agentes econômicos, com repercussões que ultrapassam o curto prazo e que impactam a trajetória de crescimento de todo o país.
A incerteza institucional se manifesta por meio de diversos canais de transmissão para a economia. A percepção de risco político, por exemplo, pressiona a taxa de câmbio, favorece a fuga de capitais e encarece importações, o que eleva custos de produção e alimenta expectativas inflacionárias. Diante desse cenário, o Banco Central adota uma postura mais conservadora, retardando cortes na taxa Selic e prolongando um ciclo de crédito caro e restrito. Esse movimento afeta tanto empresas quanto famílias, reduzindo investimentos e consumo. Ao mesmo tempo, os mercados financeiros traduzem a instabilidade em tempo real: bolsas de valores oscilam ao sabor das notícias, os juros futuros incorporam prêmios de risco adicionais e os spreads bancários aumentam. Para setores intensivos em capital – como infraestrutura, energia e indústria pesada – essa conjuntura representa um obstáculo severo, pois projetos de longo prazo se tornam mais arriscados e dispendiosos. Pequenas e médias empresas, altamente dependentes de capital de giro, são ainda mais penalizadas pelo aumento das exigências de garantias e pelos custos financeiros mais elevados.
Essa relação entre turbulência política e desempenho econômico não é inédita no Brasil. O processo de impeachment em 1992 e a crise institucional de 2016 foram acompanhados por volatilidade cambial, retração de investimentos e elevação do custo de financiamento. Embora cada episódio tenha ocorrido em contextos específicos, ambos confirmam a estreita conexão entre instabilidade política e fragilidade macroeconômica. O atual julgamento se insere nessa tradição, mas apresenta um diferencial fundamental: trata-se de avaliar a própria solidez do pacto democrático que sustenta as regras do jogo político e econômico no Brasil, reconstruído a duras penas após o período da ditadura militar.
As repercussões internacionais do processo são igualmente relevantes. Agências de classificação de risco, como Moody’s, Fitch e S&P, têm reiterado em relatórios recentes que a manutenção da nota soberana do Brasil depende não apenas da condução da política fiscal e monetária, mas também da percepção de estabilidade política. Um desfecho que reforce a confiança institucional pode abrir espaço para revisões positivas, barateando a captação de recursos para empresas e para o próprio governo. O contrário, entretanto, pode gerar rebaixamentos, encarecendo o custo da dívida e reduzindo o acesso ao capital externo. Organismos multilaterais como o FMI e o Banco Mundial também observam atentamente a condução do julgamento, uma vez que a solidez democrática constitui critério-chave na definição de prioridades de cooperação e financiamento. Além disso, grandes fundos globais, responsáveis por vultosos montantes de investimento, possuem mandatos que restringem a alocação de recursos em países considerados politicamente instáveis. Assim, a forma como o Brasil conduzirá este processo pode representar bilhões de dólares a mais ou a menos em fluxos de capital.
No comércio internacional, a percepção de estabilidade institucional funciona como ativo estratégico. Parceiros como a União Europeia, a China e até mesmo os Estados Unidos calibram suas decisões a partir da avaliação de risco político. Um Brasil visto como confiável terá melhores condições de firmar acordos e expandir sua participação em cadeias globais de valor. Em contrapartida, a instabilidade reduz o poder de barganha e fragiliza a posição do país em negociações internacionais.
O julgamento da trama golpista, portanto, tornou-se um divisor de águas para a economia brasileira. Caso seja conduzido com clareza e firmeza, transmitindo a mensagem de que não há espaço para rupturas institucionais, poderá reduzir estruturalmente o risco político, criar espaço para juros mais baixos, atrair fluxos de investimento produtivo e estimular maior integração internacional. Se, ao contrário, prevalecer a percepção de fragilidade institucional, o país poderá enfrentar um ciclo prolongado de crédito caro, fuga de capitais, baixa confiança e crescimento limitado, comprometendo a competitividade e a sustentabilidade fiscal.
Em suma, o julgamento em curso é mais do que um episódio jurídico: trata-se de um teste da solidez institucional brasileira e de sua capacidade de oferecer segurança e previsibilidade para agentes econômicos. A incerteza já se traduziu em volatilidade cambial, retração de investimentos e encarecimento do crédito. O desfecho determinará se o Brasil conseguirá transformar esta crise em oportunidade de reafirmar sua democracia e recuperar a confiança, ou se permanecerá preso a um ciclo de instabilidade crônica que cobrará caro de sua economia. Em última instância, o processo definirá o horizonte de desenvolvimento do país e a sua inserção em um ambiente global cada vez mais competitivo e sensível à questão institucional.
